quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Thin Lizzy, parte III

Já faz um tempo desde o último post. No final do segundo episódio da história do Thin Lizzy a banda havia acabado de lançar Jailbreak e o hit-single "The Boys Are Back in Town". Na sequência, o single para a faixa título do mesmo álbum foi lançado e também alcançou sucesso. Tudo estava a mil por hora para os meninos malvados (bad boys) da Irlanda, que faziam bela turnê ao redor do mundo, com direito a shows lotados pelos EUA, abrindo para medalhões como Rush e Aerosmith. 1976 ia sendo o melhor ano da carreira do grupo, até Phil Lynott, um grande beberrão tarado, contrair hepatite. A doença do líder fodeu com tudo, todos os planos de uma nova turnê (agora com o Rainbow) pela América cairam por terra.
Philip sem bigode. Uma coisa rara, salvem a foto e vendam.


Enquanto estava dodói e só na mão, Phil não ficou parado. Durante a doença escreveu várias partes do que viria a ser o álbum Johnny the Fox, lançado ainda em 1976. Outro sucesso, virou disco de prata, e teve um single bem sucedido: "Don't Believe a Word". A música é uma das melhores composições de Lynott, e o solo de Brian Robertson na faixa é até hoje incluido em listas (sérias) de melhores solos de guitarra de todos os tempos (apesar de eu acreditar que "Emerald" ou "Warriors" possuem solos mais legais). Esse single foi ao mesmo tempo uma canção boa e ruim para a banda. Brian Robertson sempre se queixou que no verso dos álbuns a maioria das composições levava o nome de Lynott, que de acordo com Robbo 'só vinha com alguma pouca melodia no baixo e as letras para que nós [ele e Scott] trabalhássemos todos os riffs e harmonia'. "Don't Believe" é outro exemplo disso. De acordo com Robbo, Phil veio com um arranjo totalmente lento e fora de contexto para a banda, que teve que rearranjar a música totalmente. A cada dia que passava a insatisfação de Brian com os créditos sempre sendo dados a Phil crescia. Algo que também crescia era a popularidade da banda ao redor do mundo. Com a reputação de serem ótimos ao vivo, com um mestre de cerimônia afiado, dificilmente algum show do Thin Lizzy recebia más críticas, e muitas vezes causava algo engraçado: se o Lizzy estava como banda de abertura, por várias vezes o headliner foi vaiado pela plateia. Porém em 23 de novembro de 1976, Brian Robertson corta a mão em uma briga de bar, um dia antes do embarque da banda para os EUA, fodendo uma já agendada turnê por lá, e deixando Phil extremamente puto (pra caralho).
"Thin Lizzy on tour with Queen" - quanto você pagaria pra ver isso?
No dia seguinte, Scott e Lynott vão até o preview do novo álbum do Queen, A Day at the Races, para sugerir à banda do eterno Freddie Mercury uma turnê conjunta pelos EUA para arrebentar a boca do balão em 1977. O Queen aceita, e para ocupar momentaneamente a posição de Robbo vem o glorioso Gary Moore, sempre ele. A turnê vai rolando impiedosamente, com duas das bandas mais supimpa ao vivo da época compartilhando palcos diante de plateias enormes. Com o final da turnê em março, Robertson anuncia sua saída do Thin Lizzy, e começa planos para formar com Jimmy Bain (ex-Rainbow) uma nova banda chamada Wild Horses. O plano era para Moore continuar na banda pelo menos até o final de todos os compromissos de 1977, mas cuzão que é, abandona o barco, e em maio Gorham, Downey e Lynott vão para o Canadá gravar um novo álbum. Já em junho, o Thin Lizzy anuncia que havia se tornado oficialmente um trio. Mas... conversa vai, conversa vem, um boquete aqui e uma carreirinha acolá, e pimba: Robbo está de volta para turnês a partir de julho. Só que Robertson não estava muito feliz, e ficava a maior parte dos shows lá atrás, praticamente encostado em seus amplificadores, e só colaborou em estúdio para o novo álbum como um session player, um mero convidado insignificante, um verme.
Fato curioso e divertido: no dia de seu 28º aniversário, em 20 de agosto de 77, Phil lança seu segundo livro de poesia, "Philip" (também conhecido como "Creative Title"), mas a comemoração de verdade foi um show no dia 21 em Dublin, um minifestival em homenagem a Lynott começando as 15h, com a presença de Boomtown Rats, Graham Parker & the Rumour e, é claro, Thin fuckin' Lizzy. Após o termino do show, centenas das mais de onze mil pessoas que estavam na plateia foram para a casa de Phil, aonde rolava uma festa, derrubaram o portão, foram bem recebidas lá, porém presas por porte de drogas algum tempo depois (isso não é brincadeira, apesar de engraçado). Como a banda estava em alta, Phil e seus amiguxos foram chamados para serem headliners do segundo dia do Reading Festival '77 (o primeiro dia teve Uriah Heep, o terceiro Alex Harvey Band, e o Aerosmith foi convidado especial do segundo).
O oitavo álbum de estúdio do Thin Lizzy, nomeado Bad Reputation, foi lançado no segundo dia de setembro de 1977, e alcançou uma excelente quarta posição nas paradas inglesas, embalado pelo sucesso do single "Dancing in the Moonlight (It's Caught me in Its Spotlight)". Como citado anteriormente, Robbo só tocou um pouco no disco, contribuindo com teclados e guitarra em "Opium Trail" e "Killer Without a Cause", mas o excelente trabalho dobrado de Scott Gorham acabou tornando o disco mais uma grande obra. Com uma reputação digna do título do novo disco, problemas com drogas e pedidos de ajuda a Deus escancarados em canções como "Opium Trail", "Downtown Sundown" e "Dear Lord", o Thin Lizzy embarcava em mais uma turnê cheia de confusões que até Stallone duvida. Por exemplo: mais uma vez Robbo machuca a mão. Dessa vez não se sabe como, cortou a mão direita e teve que tocar enfaixado e sob fortes efeitos de antibióticos no último show de 1977.
No começo de 1978, Lynott, Gorham e Downey, junto com os comparsas de sempre Gary Moore e Jimmy Bain, unem forças com Steve Jones e Paul Cook (Sex Pistols), além de Chris Speeding, para formar um supergrupo festeiro e do balacobaco: The Greedy Bastards. Mas o primeiro show dos caras, marcado para fevereiro, acaba não acontecendo, e o Lizzy acaba entrando em uma nova turnê europeia em março, com uma perna em maio que foi nomeada 'Live and Dangerous Tour'. É claro, depois do começo dessa turnê, é lançado o famoso e contraditório álbum ao vivo Live and Dangerous (que será analisado apropriadamente em algum post futuro), em junho. Lembra do sempre infeliz e excluido (por exemplo dos Greedies) Brian "Robbo" Robertson? Pois é, dessa vez ele abandonou o barco de vez. Uma discussão com Phil depois de um show em Ibiza selou a saida de Robbo do Thin Lizzy. Mas sabe o quê?
Desconhecido, Lynott, Cook, Jones, Moore, Gorham, Speeding, Downey e Bain. Timaço!
Foda-se, eles são os bastardos gananciosos! A curta história dos Greedies, o último grande disco do Lizzy, e o final da banda em 1983 será tratado no próximo (e provavelmente último) post. Até lá, canalhas!

-Thithi